"Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e o amor, estes três, mas o maior destes é o amor."

terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Poeta de gestos

Cena de "Le Fabuleux Destin d'Amelie Poulain"


Poeta de gestos

Desconheço as palavras tais
Que paridas orgulhosas
En-cantariam o mundo,
Vistoso mundo.

Desconheço-as.
Nunca as conheci.
Nem sei se as conhecerei.
(Talvez sejam antissociais)

Enquanto isso, embromo com outras menos vistosas.
E escrevo, escrevo e escrevo.
Em fôrmas de bolo.

Canto mudo o mundo, o torcer dos lábios e o entrefechar de olhos.

Sou poeta de gestos.

Das coisas que esquecemos

                                    A persistência da memória, de 1931, Salvador Dali
                                            

Das coisas que esquecemos



Das memórias dissipadas,
Distantes e borradas,
Jaz o antes signo,
Pétrea certeza,
Um sorriso.

Melancólico fim,
As memórias já não são.
Desenervadas, cauterizadas,
Houveram.
Em outra vida.

Pessoas passam em um bonde.
(ou será um metrô?)
Esquecem-se de si mesmas.
Importa mais não esquecer a próxima parada.
Tolas, e se não houver?
Haverá o esquecimento.

Escrevo para não esquecer
O paradoxo profundo
Das inquietudes desta vida,
Da serenidade deste céu azul,
E de que os mortos não choram.

Matheus de A. Queiroz